31/03/14

Merecemos castigo


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Como chamar, como denominar esses Senhores Doutores, cada um em seu posto, que durante, não meses, mas anos, sucessivamente, uns atrás dos outros, desgovernaram o barco que nos deveria levar em segurança?
Chamá-los:  Incapazes?
Seriam-no, na realidade? Ou as suas capacidades seriam outras, que não a de desempenhar o papel que lhes foi confiado?

Desleais?
A lealdade, ao contrário do que deveria ser, é subjectiva demais, vai mais além do que o simples sinónimo que lhe é atribuído no dicionário.

Mas... não interessa o que lhes chamemos.

Por hora, chamemos-lhes apenas e tão-somente: nossos governantes. Uns num nível mais abaixo, outros num outro mais acima, uns que se apresentam à frente, outros que se ficam de lado, mas são todos os governantes deste Estado, que se mostra em estado de caos.

Homens e mulheres a quem foi confiado o barco e não só. 
A quem foi confiada a nossa vida inteira. 

A quem confiamos o que têm os homens dignos de mais precioso: o nosso ganha-pão, o nosso posto de trabalho - o projecto de sobrevivência de uma vida.

Nós, os que ganham o pão, do nosso lado, procuramos ser o mais capazes que nos seria possível ser. Desempenhamos a função que nos foi predestinada da forma o mais profissional e apaixonada para lá do que era possível, de modo a nada desabonar a nossa conduta, nem colocar em causa o nosso posto de trabalho - nosso tesouro.
E para além disso, fomos íntegros, fomos éticos, fomos assíduos, fomos leais ao Estado, fomos bons pagadores sem que para isso fosse necessário que nos assediassem com a virtualidade topo de gama. Fomos o que esperavam que nós fossemos, PONTO.

Mas, para além de tudo isso, também teremos sido inocentes?
Teremos sido tão estupidamente ingénuos como nenhum homem adulto tem o direito de ser?
Foi esse o nosso erro?

Não sabíamos que não é na nobreza do trabalho que reside o valor de um homem?

Inocentes crédulos, eis o que somos.
De facto, somos merecedores do mais duro castigo.
Claro que sim.

Rua connosco!




29/03/14

Rir porque sim!





Quando eu era menina

ria, ria muito.

Ria porque sim.

Adorava rir e ria de tudo,

porque de tudo se alimentava o riso.

E tudo me fazia bem.

Ria do nada.

E nada me fazia mais feliz.

Tinha a felicidade na mão

sem saber o que isso era.


Sem reconhecer o dom,

à minha mãe assustava

tanta alegria vinda do desatino...

que jubilar sem razão

não teceria bom destino e,

pedia aos céus

que guardasse eu o siso, pois que

quem tem muito de riso,

tem pouco de juízo.


Mas o viço da primavera

chapinhava na moral,

a vontade de rir

persistia

a semear cor

em terra de cinzento decoro.


Enfim, veio o tempo

que desenraizou de mim

a vontade de rir.

Sem querença,

acabei me esquecendo do riso.



Mas esta manhã,

visitou-me a vontade

e contou-me, em segredo,

que o riso

não se quer rogado.

Quero reaprender a rir.

Quero recuperar essa alegria

que só criança entende:

rir por rir,

rir sem ter porquê,

rir sem pudor,

rir porque sim,

rir pelo simples prazer,

porque se juízo, já não o tenho,

que eu viva o riso.

Que eu ria com a alegria

mais desavergonhada

que a satisfação de rir

me puder dar.





26/03/14

Vontade louca


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E se um dia te der uma vontade louca de gritar?
Gritar bem alto.
Tão alto quanto te apetecer!
E pôr a boca no mundo, falar o que sair do mais profundo do teu querer!
E falar, falar, falar!
Sem papas na língua!
E gritar até cansar!

E aí…Nesse momento, tu te apercebes de que não tens ninguém que te ouça.

Não há quem esteja interessado em te ouvir.
Não há, sequer, alguém que, ainda que contrafeito, esteja aí à mão, para te ouvir!
Ah! Isso é o pior dos piores!
Isso é terrível!
Isso é a SOLIDÃO ESCANCARADA NA TUA FUÇA!
Parece-te impossível?
Mas digo-te: é verdade!
E não venhas cá com o argumento de que passaste uma vida inteira a ouvir o que tinham para te dizer e, ainda o que não te queriam dizer a ti, mas desaba(fa)ram em ti…

E daí?

De que te vale tudo isso agora?
QUEM tu tens aí, ao teu lado, para te ouvir?
Pois a verdade, meu amigo, é que nada disso tem valor agora.
Queres falar?
Queres gritar?
Queres pôr a boca no mundo?
Problema teu!
Pois então: fala pra’í!