28/12/14

A busca




Eu sou a que acredita.
Sou a que segue impávida
Na tempestade
Em busca da calmaria


Que prometeste um dia.

20/12/14

Tão bonito a fraternidade...



Não me identifico como pessoa de andar para aqui a fazer julgamentos acerca dos comportamentos ou opções alheias, mas no que diz respeito a este tipo de assunto que nos é escancarado à frente e, de uma maneira ou outra e mesmo de todas as maneiras, acaba por nos entrar porta adentro, ouso julgar e dar-me ao direito de mexericar acerca do tema.
É que isto da galhofada em que resolveram transformar o Natal já anda a passar dos limites do tolerável.

Concordo que o mundo evolui e, com ele, a própria maneira de reviver as tradições. E, por arrasto incluem nessa evolução, as tradições religiosas. Maaaaas… atendendo a que são t-r-a-d-i-ç-õ-e-s e, a tratar-se de religião, que tem a ver com crença, com valores morais e espirituais, não seria lógico que respeitassem o segmento original? Serei eu a única mete-nojo cá desta sociedade moderna, a se dar à impertinência de não compactuar com estas modernices que não me dizem nada, nem me engrandecem a alma, nem me trazem verdadeira paz à vida?
E da fraternidade alardeada, tendo o cuidado de por a salvo raríssimas excepções, só me resta afirmar que parece soar, cada vez mais, a virulenta hipocrisia, adoptada por uma dúzia de bem afeiçoados a quem zoou que lhes ficaria bonito e lhes resultaria numas fotografias à maneira para o curriculum vitae e, com um bocado de sorte até para o jornal lá da terra, se andassem para aí e para ali a apregoar a generosidade com os menos favorecidos da periferia da sociedade moderna... pelo menos durante esta meia dúzia de dias, que é inverno por estas paragens e, mais do que bem que fica, agasalhar quem tem frio e dar caldo quente a quem tem fome, e por aí vai a conversa…

Quando olho à minha volta constato que há pessoas adultas para quem Natal é significado de compras e de ofertas. E dão, oferecem, presenteiam a todos à sua volta.

A sala decora-se de papéis de embrulho e fitas largas e estreitas de todas as cores e, na cozinha, segreda-se as mágoas, cochicha-se acerca deste e daquele e, sobrando tempo, ainda daqueloutro.
À mesa arreganha-se o sorriso. No resto do ano desdenha-se das carências de quem as tem – que se contentem com um jantar de Natal e uma prenda e não digam que vão daqui!  que quem dá o que pode, a mais não é obrigado.

E assim, se passa do feliz natal” à corrida para o ano novo, que se vive na mesmice dos anteriores, até que ele, o novo, também se fine.
E assim temos vivido nós: tão bons, tão amigos, tão fraternos, tão alegres nos 10 dias de 365.





19/12/14

O Natal que eu sonho


Que o Natal
Não se resuma a palavras vazias
E mecanizadas,
Exigidas por uma sociedade
De sorriso gélido
Como o frio de Dezembro.

Que não seja simples palavreado
Da boca pra fora,
Porque o momento assim o dite.

Que toda esta fraternidade
Não caia no esquecimento
Daqui a uma semana,
Quando as rabanadas
Já estiverem digeridas
E os sonhos em calda
Já tiverem escorrido
Pela sanita abaixo.

Porque eu quero
É um Natal
Diferente.
Eu quero
O Natal que eu sonho!

O Natal que eu sonho
É aquele que chegue
Sem data marcada,
Sem obrigação
De trazer laço.

O Natal que eu sonho
É aquele que não me traga
O sabor amargo
Do sorriso obrigado.

O Natal que eu sonho
É aquele que não me deixe
A culpa
Por não estar
No lugar errado.

O Natal que eu sonho
É aquele que chegue
Para ficar
Todos os dias
Da minha vida.


Dezembro/2010


16/12/14

Um doce bom



Tu és o quê da minha vida.
És assim
Como um doce bom
A meio da tarde
A adoçar
Este viver amargurado.
No teu sorriso
É que encontro o alento.
Pois se és tu
Quem me move para diante
Por estes caminhos áridos
Que deu-me Deus para eu trilhar,
Que venham mil e uma tempestades,
Que corram rios de infâmia
Que não preciso de mais nada,
Pois que consegui a plenitude.
És o meu amor sem medida.
Por ti eu vivo
Por ti eu respiro,
E não um respirar qualquer.
Respiro
Ao ritmo desse teu coração alegre.
Sabes que a vida é uma só.
Então anda,
Vem,
Dá-me tua mão,
Que irei gastá-la
A amar-te.








11/12/14

Não sei quem sou


Olho-me ao espelho
e não me reconheço.
Eu já não sou quem sou.
Nem sei se sou,
ou sequer sei
o que alguma vez terei sido.

Meu rosto
não é o meu,
meus olhos
não falam do que vêem,
minha voz
é de quem cala,
meus ouvidos
são moucos
às palavras
que lhes querem falar.
Eu não sei quem sou.


Agosto 2011

08/12/14

Faz 20 anos que partiu...



«Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar»




Tom Jobim, um dos pais da célebre música Garota de Ipanema,  faleceu num dia 8 de dezembro  há precisamente 20 anos.
Faleceu quatorze anos depois de Vinícius, seu  companheiro de jornada. A morte do amigo abalou-o de forte maneira : "Foi a morte de Vinícius  que me deu a convicção de que não somos imortais”.
Músico completo, era: compositor; pianista; violonista e maestro para além de cantor, com uma voz inconfundível.
Foi um dos criadores e grande impulsionador do movimento Bossa Nova, que daria à música brasileira um gingado diferente que ultrapassaria fronteiras, levado, por sua própria mão, a ser apresentado oficialmente aos americanos em Novembro de 1962.
Admirador de Ary Barroso e com forte influência da música erudita, em especial de Villa Lobos e Debussy, exibindo nas suas composições uma carga emocional intensa, aspirava que sua música fosse uma música cantada pelo povo.
E conseguiu.
Em 1964, com Garota de Ipanema, ganhou o Grammy como canção do ano.

Numa obra em que, além de sua parceria com vários compositores, viu gravada e regravadas as músicas, inclusive internacionalmente, dentre outras, podemos destacar (clicando no título, poderá aceder à música no Youtube):

Luíza  e   Luíza   


06/12/14

Retrospectiva










 
De todas as vidas que vivi, nenhuma delas foi a minha vida.
Decididamente, ainda não vivi a minha vida. Ainda não produzi o que idealizei.

Mas plantei várias árvores.

Pari mais do que uma vez.

Escrevi. Escrevi demais.
Palavras em folhas soltas, por vezes amachucadas e deitadas ao lixo.  
Ou esquecidas, sei lá eu onde, em algum lugar no tempo.
Em meus pensamentos juntei frases, capítulos inteiros que dariam para escrever um livro, mas que não foram escritos e a memória apagou.
O que construí foram blocos soltos de argamassa. Nada suficiente para que erguesse um castelo.





TER UM FILHO;
PLANTAR UMA ÁRVORE;
ESCREVER UM LIVRO.

Não sei se a origem é árabe, chinesa, ou mesmo do norte da Europa, quem sabe? Mas é facto que cresci e formei-me em gente com este repto, lançado por um professor, homem de cultura ímpar, como primordial, sem o qual a vida seria incompleta, sem conseguir atingir o apogeu da realização. Hoje, questiono se o nosso mestre seria tão sapiente assim, como nos parecia a nós, na altura, inocentes juvenis sedentos de tudo e, principalmente, de descobrir e guardar a fórmula mágica para a felicidade terrena.
Mas será? Quantos, dentre os cumpridores desses quesitos, se sentirão realizados verdadeiramente?



 

02/12/14

Parando



Estou parando.
Não sei bem porquê.
Escolhem por mim;
Ditam os caminhos;
Marcam os tempos;
Não esperam resposta.

Podem e mandam.
Que me cale eu.
Que muitas vozes
Já se fazem ouvir!

Não há porque querer...
Há sim, que aceitar.
Seja eu boa menina:
Que cale.
Que aceite.
Que fique.
Que pare.

Que vá.