30/03/15

a teoria cinzenta de minha avó

http://www.wikiart.org/pt/robert-henri/spain-1902


As pessoas antigas, daquelas que vão deixando já de existir no nosso dia-a-dia, como no caso de minha avó, que, a ser viva, já teria completado 101 anos, toda a vida defenderam que a Quaresma era sempre cinzenta, para lembrar aos homens as suas falhas.
Sempre tive minhas dúvidas acerca dessa teoria e mantenho-as, apesar de ser impossível não me lembrar da teoria de minha avó, quando nesta altura, o tempo resolve mostrar-nos sua face cinzenta.
Deste lado do oceano Atlântico, coincidindo esta época com a chegada da primavera, tempo de transição das agruras dum inverno, que não nos querendo deixar, ainda teima em ameaçar-nos, brincando de esconder o sol, é ainda mais fácil contradizer técnica e cientificamente a teoria cinzenta de minha avó.

Mas, com tudo isso, é facto que a Quaresma com tempo nublado leva-nos mais facilmente à circunspecção, independentemente do cariz religioso.
Essa circunspecção acompanhada de reflexão é necessária, não se põe em causa. Mas que seja para construirmos uma técnica de actuação, à semelhança do futebol, para driblar os abismos e conseguirmos a plenitude da vida e não apenas sobreviver ao caos.

Aliada à primavera,em que a natureza parece se espreguiçar depois do interregno a que se deu na estação passada, a Quaresma surge como estímulo para a renovação e o desabrochar.
Se não há quem conteste a sabedoria da primavera que instintivamente se abre em flor, será, por certo, sensato nos permitirmos florir e encher de cor para contrariar os cinzentos da vida.




*nota da bloguista: a ilustração corresponde a uma obra de arte do pintor americano Robert Henri, que viveu entre 1865 e 1929, e foi um dos fundadores da escola Ashcan (Ash Can) - início séc.XX - em que os artistas se especializaram em retratar em suas obras a vida diária de Nova Iorque.

http://www.wikiart.org/pt/robert-henri/spain-1902

29/03/15

roubaram...




Roubaram a luz ao sol,
Tiraram a cor à alegria,
Só percebo nuances de cinza,
Já nem sei se é noite ou dia .



Poema magistral de Pedro Abrunhosa, aqui na voz de Bethânia.



E no horror do desespero, só os fantasmas por companhia.


22/03/15

luz não basta

     RASGOU-SE  O  CÉU  E  DAS  ENTRANHAS  DO  BREU  SURGIU  A  LUZ
Mas  tanta  luz
Ofuscou-te  a  visão,
Toldou-te  o  pensamento.

Culpa foi de quem não chamou à evidência: discernimento.







15/03/15

Olhos aos céus



Decididamente, tenho que arranjar uma máquina fotográfica que seja pequenina e leve para trazer no bolso e registar os momentos sublimes que se me vão pondo à frente e, especialmente acima da cabeça.

É que, nos últimos dias, tenho sido contemplada com visões extraordinárias.
Na semana passada dei comigo parada no centro duma praça da cidade, extasiada, admirando uma cegonha que planava tranquilamente sobre um prédio.
Dois dias depois, ainda na semana passada, foi um pato desgarrado que sobrevoava o mar apressadamente, já de volta para casa, a ver se fugia à chuva que se aproximava.
Ontem e hoje, novamente os patos, esses maravilhosos voadores de pescoço atirado à frente, a cortar o ar. Exibem alegria: voam e grasnam a anunciar que ali vão - é só levantar os olhos do chão, ergue-los aos céus e vê-los passar.

Sinto-me abençoada.


11/03/15

Eu seria boa gestora. E você?

O BES, a PT, etc

Como é que as coisas não haviam de correr mal...
Ninguém foi informado.
Ninguém desconfiou.
Ninguém deu por nada estranho.
Ninguém viu os riscos.
Ninguém viu o caso a perigar.
Ninguém desconfiou de ninguém nem de nada - tão crédulos os nossos senhores gestores.
Resumindo e concluindo:

N I N G U É M     S A B I A     N A D A


Se não toda, quase toda a gente sofre de falta de memória. Será vírus?
Tem um que nem se lembra de ter agarrado, ou ter dado fé de quem agarrou, em 5oo milhões de euros e os investiu num barco furado. Coitado do homem. Há que ter verdadeiramente pena de seu estado de saúde, apesar de o senhor alegar "sã consciência".
Além de que, tem sérias dificuldades de entendimento, vá-se lá saber se deve-se a algum problema cognitivo ou a uma certa falta de conhecimento da língua materna - é natural que um senhor tão viajado esqueça como se fala português claro. O mais interessante é que um quesito reconhecido na sua liderança é justamente "privilegiar a comunicação" - como se pode constatar neste artigo aqui onde se pode ainda conhecer o método de liderança do senhor, é interessante de ler...

Conclusão:
Por que é que andam a chatear os homens?
Eles não ganham para estarem aqui a responder a questões tããããão difíceis.
Eles já deixaram bem claro que estão, todos eles, INOCENTES.
Para que investigar? O caldo já está entornado, e está. Não vai dar para recuperar nada: é passar o chão a pano e andar pra frente.

Porém, tal como a nossa maravilhosa deputada Mariana Mortágua, eu gostava de entender como é que uma pessoa premiada como melhor CEO (presidente executivo) - tantos prémios! se envolveu neste imbróglio, sem dar por nada, sem registar nada na memória... parece a música do João Pedro Pais: "Nada de nada".

BANKSTERS - Marc Roche afirma em entrevista que o caso do BES é o "maior exemplo do mau funcionamento do sistema bancário em todo o mundo". aqui

E esta, hein?

Para onde caminhamos nós?



Próxima estação




Alegrem-se.
Próxima estação: primavera.

O inverno, embora sem vontade nenhuma, já, já há-de ir pregar para outras paragens.
Já se consegue, aliás, vislumbrar um inverno quase em flor.




08/03/15

Ser mulher no dia da mulher e nos outros também




Na minha rua
Há uma casa
Onde mora um monstro
Com rosto
De príncipe encantado
Que abre a porta
Aos terrores,
Que semeia
Um mundo de pavores,
Tantas lágrimas!
Indizíveis dores
Encerram os cómodos
Daquela casa.
Mas eis que sai à rua
O monstro
De braço
Com a princesa
Que no rosto traz
Lindo sorriso
E nos olhos
Esconde tristeza.

Para além de rosas, laços e sorrisos, não fica mal falar e manter viva a ideia da Organização das Nações Unidas ao instituir em 1975, o 8 de março como dia Internacional da Mulher para que se marcasse as conquistas políticas, sociais e económicas conseguidas pelas mulheres, duma luta iniciada na viragem do século XX, tanto na Europa como nos Estados Unidos, em que reclamavam por melhores condições de trabalho - numa altura em que “era normal” trabalhar 16 horas diárias e receber até 1/3 do salário masculino - e pretendiam ainda o direito ao voto.

Após tantas lutas e tantas conquistas, ainda tanto por conseguir.
A injustiça social e profissional e a violência dentro e fora de portas continuam a perseguir a mulher.

  • A mulher é vítima quando trabalha em condições semelhantes ao homem e recebe salário inferior;

  • A mulher é vítima quando é desrespeitada e assediada sexualmente no local de trabalho;

  • A mulher é vítima quando não lhe é garantido seu posto de trabalho para que possa assegurar a criação de seus filhos com dignidade;
  • A mulher é vítima quando, em nome de tradições culturais sofre mutilação genital, perpetrada por sua própria família;
  • A mulher é vítima quando, ainda em nome das tradições é obrigada, contra sua vontade, a casar-se;
  • A mulher é vítima quando é forçada a prostituir-se;
  • A mulher é vítima quando sofre de violência doméstica – no ano passado (2014), em Portugal morreram uma média de uma mulher a cada semana nas mãos de seus algozes; este ano já morreram seis mulheres – pode ver aqui.  ... Já o Brasil conseguiu uma vitória na luta em oposição à violência contra as mulheres com a aprovação, esta semana, no dia 3 de Março, do projecto lei que torna o feminicídio um "crime hediondo", em que a punição será mais severa sempre que uma mulher for assassinada por violência doméstica ou sexual - pode ver aqui.
  • A mulher é vítima quando é usada como arma de guerra – o horror da guerra é sempre maior para as mulheres e meninas que, cada vez mais, sofrem estupros brutais, são vítimas de tráfico humano, são tornadas escravas sexuais – como pode ver aqui num alerta do Vaticano na ONU.


Há vinte anos, líderes mundiais reuniram-se em Pequim e comprometeram-se a garantir os direitos das mulheres e jovens.

Hoje, Lucy Freeman – directora do programa de género, sexualidade e identidade da Amnistia Internacional diz que esses direitos estão ameaçados – pode ver aqui o relatório.


A APAV - Associação de Apoio à Vítima está a lançar uma música que tem poema do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho e que quer ser um hino pelas vítimas da violência doméstica. São oito cantoras portuguesas que querem dar a voz por quem sofre em silêncio.
Pode ouvir e fazer o download da canção aqui no site da APAV.




Bem, se você, como eu,  MULHER, teve a coragem de lembrar de todas estas realidades e chegar aqui, só me resta, para finalizar, sorrir-lhe e desejar do meu coração, que hoje, amanhã e nos dias que hão-de vir, você e eu possamos viver dignamente na condição de mulher, que apenas quer e merece ser ser humano.







05/03/15

Não deixe a tristeza se instalar




Tristeza grande
quando chega
é atroz.
Dói fundo no corpo,
enevoa o olhar,
amarga a voz.
Tristeza desluz a alma,
torna-a baça,
rouba-lhe o ânimo.




Os estudos revelam que os países mais tristes estão entre os que apresentam condições sócio-económicas mais desfavoráveis. Nada que surpreenda um leigo.
É inegável que é impossível uma criatura sentir-se bem, quando sua estabilidade não está assegurada.

Se é retirado a uma pessoa, o trabalho, seu meio de subsistência básico, que lhe possibilita garantir uma habitação digna, manter as contas mínimas em dia e ter alimentação e higiene asseguradas, é-lhe retirada a dignidade.
Com certeza, os mais de 600 mil desempregados deste país gostariam de conhecer os parâmetros utilizados pelo nosso caro primeiro-ministro paraem consciência, declarar que a "dignidade dos portugueses nunca esteve em causa com o ajustamento" - aqui .
Onde reside o respeito pelo cidadão que vive em real dificuldade em consequência das medidas impostas nos últimos anos?

Quem vê impostos lhe serem acrescidos, seu salário cortado, seu posto de trabalho alterado forçosamente, sofre demais e entra numa tristeza difícil de superar - aqui - um excelente artigo de Baptista Bastos
E qual a medida do sofrimento de quem vê seu meio de subsistência retirado?
Talvez o Exmº primeiro-ministro encontre aqui a resposta, num estudo da Universidade de Zurique - Suíça - em que os investigadores alertam para a relação entre o suicídio e o desemprego.

É importante ter em conta a diferença entre tristeza e depressão, e reconhecer sinais de alarme - aqui uma análise do Dr. Luís Ferreira.




03/03/15

A chuva




Vem gélida
a chuva.
E cai,
como se aos cântaros,
fosse do céu arremessada.
Encharca a terra,
deixa-a enlameada.
É lama,
lama,
TANTA lama!
E continua
a cair a chuva,
essa chuva tão molhada.
Agora traz consigo
o vento
que vem endiabrado,
maldisposto,
não tem tento.
E corre,
empurra a chuva à frente.

É inverno dobrado.