27/09/11

Peixe fora d'água

Não é exactamente como um peixe fora de água que me sinto.
Porque o peixe, quando fora da água, pura e simplesmente, acaba por morrer em minutos. Instantes bem sofridos, porque a sensação que o dito há-de ter nessa hora da morte, com certeza, assemelhar-se-á à nossa falta de ar, ao nosso morrer sufocado. Morte terrível.
Mas, por mais angustiante que seja, o peixe acaba por se finar ao fim de pouquíssimo tempo.

Sufoca, sofre e acaba.

Mas… e se a morte não vem e o sofrimento perdura e se estica mais e mais no tempo que, seguindo a lógica da teoria da relatividade, dura mais do que o tempo que dura? 
Porque a dor não deixa o tempo passar: dói e dói, e atormenta e suplicia e transforma os minutos em horas intermináveis e transmuta as horas em longos dias de martírio.
Quem leu "As intermitências da morte" de Saramago, confirmou aí, se dúvidas tivesse, que a morte em suspensão não é de todo agradável nem solução aprazível.

Penso que me sinto antes, como um peixe no aquário sendo atacado por um maravilhoso mas predador-nato: o gato.
E como peixe no aquário, confuso e encurralado, insisto em bater a cabeça na transparência do vidro que eu já sei que não me deixará escapar, apesar de a liberdade estar ali, diante dos olhos, do outro lado do vidro.
A morte é certa, mas demora a chegar.
O gato mostras de tentar ser mais ágil e encurtar-me o sofrimento.
A fuga é inútil.

A tortura é terrível.

Pergunto-me o que será mais difícil: ser sufocado ou ser dilacerado?
E depois de dilacerado, ainda assim, virá o sufocamento...
Morte atroz.
Assim me sinto: como um peixe num aquário a espreitar o aproximar do predador.