Não é exactamente como um peixe fora de água que
me sinto.
Porque o peixe, quando fora da água, pura e simplesmente,
acaba por morrer em minutos. Instantes bem sofridos, porque a sensação que o
dito há-de ter nessa hora da morte, com certeza, assemelhar-se-á à nossa falta
de ar, ao nosso morrer sufocado.
Morte terrível.
Mas, por mais angustiante que seja, o peixe acaba por se finar
ao fim de pouquíssimo tempo.
Sufoca,
sofre e acaba.
Mas… e se a morte não vem e o sofrimento perdura e
se estica mais e mais no tempo que, seguindo a lógica da teoria da
relatividade, dura mais do que o tempo que dura?
Porque a dor não deixa o tempo passar: dói e dói, e atormenta e suplicia e transforma os minutos em horas intermináveis e transmuta as horas em longos dias de martírio.
Porque a dor não deixa o tempo passar: dói e dói, e atormenta e suplicia e transforma os minutos em horas intermináveis e transmuta as horas em longos dias de martírio.
Quem leu "As intermitências da morte" de Saramago, confirmou aí, se dúvidas tivesse, que a morte em suspensão não
é de todo agradável nem solução aprazível.
Penso que me sinto antes, como um peixe no aquário
sendo atacado por um maravilhoso mas predador-nato: o gato.
E como peixe no aquário, confuso e encurralado,
insisto em bater a cabeça na transparência do vidro que eu já sei que não me
deixará escapar, apesar de a liberdade estar ali, diante dos olhos, do outro
lado do vidro.
A morte é certa, mas demora a chegar.
O gato dá mostras de tentar ser mais ágil e
encurtar-me o sofrimento.
A fuga é inútil.
A tortura é terrível.
Pergunto-me o que será mais difícil: – ser sufocado ou
ser dilacerado?
E depois de dilacerado, ainda assim, virá o
sufocamento...
Morte atroz.
Assim me sinto: como um peixe num aquário a
espreitar o aproximar do predador.