Não me identifico como pessoa de andar para aqui a fazer julgamentos
acerca dos comportamentos ou opções alheias, mas no que diz respeito a este
tipo de assunto que nos é escancarado à frente e, de uma maneira ou outra e mesmo
de todas as maneiras, acaba por nos entrar porta adentro, ouso julgar e dar-me
ao direito de mexericar acerca do tema.
É que isto da galhofada em que resolveram transformar o Natal já anda a
passar dos limites do tolerável.
Concordo que o mundo evolui e, com ele, a própria maneira de reviver as
tradições. E, por arrasto incluem nessa evolução, as tradições religiosas.
Maaaaas… atendendo a que são t-r-a-d-i-ç-õ-e-s e, a tratar-se de religião, que
tem a ver com crença, com valores morais e espirituais, não seria lógico que
respeitassem o segmento original? Serei eu a única mete-nojo cá desta sociedade
moderna, a se dar à impertinência de não compactuar com estas modernices que
não me dizem nada, nem me engrandecem a alma, nem me trazem verdadeira paz à
vida?
E da fraternidade alardeada, tendo o cuidado de por a salvo raríssimas excepções, só me resta afirmar que parece soar, cada vez mais,
a virulenta hipocrisia, adoptada por uma dúzia de bem afeiçoados a quem zoou que
lhes ficaria bonito e lhes resultaria numas fotografias à maneira para o curriculum vitae e, com um bocado de sorte até para o jornal lá da terra, se andassem
para aí e para ali a apregoar a generosidade com os menos favorecidos da periferia da
sociedade moderna... pelo menos durante esta meia dúzia de dias, que é inverno por
estas paragens e, mais do que bem que fica, agasalhar quem tem frio e dar
caldo quente a quem tem fome, e por aí vai a conversa…
Quando olho à minha volta constato que há pessoas adultas para quem
Natal é significado de compras e de ofertas. E dão, oferecem, presenteiam a
todos à sua volta.
A sala decora-se de papéis de embrulho e fitas largas e
estreitas de todas as cores e, na cozinha, segreda-se as mágoas, cochicha-se acerca
deste e daquele e, sobrando tempo, ainda daqueloutro.
À mesa arreganha-se o
sorriso. No resto do ano desdenha-se das carências de quem as tem – que se
contentem com um jantar de Natal e uma prenda e não digam que vão daqui! – que quem dá o que pode, a mais não é obrigado.
E assim, se passa do “feliz natal” à corrida para o ano novo, que se
vive na mesmice dos anteriores, até que ele, o novo, também se fine.
E assim temos
vivido nós: tão bons, tão amigos, tão fraternos, tão alegres nos 10 dias de
365.