Porque dizem que o sorriso faz bem ao
coração, engana a lágrima e alimenta a alma, é com Djavan que a mensagem abre,
para que saibamos sorrir, mesmo em dia cinzento, ainda que a dor torture e os
ombros gritem o cansaço.
E já que é Dia do Sorriso…
Esta é a versão em Português, de
autoria do compositor brasileiro João de Barro (Braguinha) que, muitos anos
mais tarde, foi regravada por Djavan. Esta versão tem um poema lindo, que não
fica atrás do original.
O que muitos, das gerações mais novas,
não sabem, é que esta música, das mais famosas de todos os tempos, começou por
ser apenas uma doce melodia, criada por Chaplin (também conhecido como Carlitos
ou Charlot) em 1936 para um filme seu, que, já há oitenta anos e, atrás de uma
comédia-sem-palavras foi sua voz para criticar a ditadura, a revolução
industrial e o capitalismo que maltratam e mecanizam o homem.
A música, somente em 1954, viria a
receber a letra, pelas mãos de John Turner e Geoffrey Parsons. Teve versão em várias línguas,
até em Esperanto.
Foi cantada por
todo o mundo, por algumas das mais famosas vozes.
E era a música preferida de Michael Jackson, tendo, inclusive, sido cantada por seu irmão na cerimónia de seu funeral.
Curiosamente, este "Smile", que nos manda sorrir, apesar de todas as dificuldades, tem um quê de melancolia na sua melodia.
Hoje, dia de tempo
cinzento, tão adequado a fermentar ainda mais, a melancolia que se abate sobre
o meu ser, o espírito acorda com vontade de deitar, pedindo ao corpo que se
encolha em hibernação, à espera que o tempo passe e, chegue enfim, boa
alvorada.
Mas, o blogue também
é uma janela de luz, que não vem do sol, mas sim de todos os amigos que nos lêem,
às vezes em silêncio, sem se manifestarem, outras vezes, também deixando-nos
sua voz.
Quando abro a caixa
de comentários da postagem anterior, acerca do “Tempo”, tenho à minha espera um comentário, dentre tantos
maravilhosos, que me chama especial atenção e, que ele próprio poderia ser
postagem, não só pela dissertação da sua autora (a amiga Emília Pinto, do blog “Começar de Novo”- link do blogue) como também pela citação que faz. Por isso
e por achar que os demais amigos mereciam conhecer seu texto, reproduzo a
seguir:
«Ai o tempo, esse
senhor tão gentil, dizes tu, Carmem. Dizemos muitas vezes que ele é o nosso
melhor amigo...ajuda a cicatrizar feridas, a amenizar dores, a parar tempo do
aqui e agora e sorrirmos com algo belo que acaba por nos acontecer. Ele passa a
seu tempo, no seu ritmo, mas dá-se por completo a nós, permitindo que façamos
dele o que quisermos por quanto tempo quisermos e da maneira que desejarmos.
Não podemos dizer que não é gentil. O problema é que nós nem sempre sabemos que
o tempo nos pertence e não o aproveitamos com tempo, devagar, sem correrias. É
certo que nem sempre o sabemos fazer e mais certo ainda é que no tempo manda a
vida e essa vida controla-nos e muito. Mas, chega um tempo em que, apesar de
tudo descair e o corpo ficar mais frágil, temos mais tempo para saborear cada
instante desse tempo. Claro que temos menos tempo de caminhada, mas o que temos
é todo nosso, sem necessidade de o repartir e com muito mais experiência para
saber a qual instante deste tempo devemos dar prioridade. . Há um poema que
sempre conheci como sendo de Carlos Drummond de Andrade, mas parece que não é e
que gostaria de aqui deixar, se me permitires. Bem... aqui vai:
CORTAR
O TEMPO
Quem
teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo
genial. Industrializou
a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze
meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí
entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com
outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai serdiferente...
de: Roberto Pompeu de Toledo
(segundo li
na net )
Acho interessante
este cortar o tempo em fatias. Não precisamos de o cortar em anos, meses ou até
semanas; podemos cortar o tempo que ainda temos em fatias mais fininhas e a
cada amanhecer saborear uma delas, deixando a outra para o novo começar se
ainda formos a tempo. Apreciaremos cada fatia com mais vagar, com mais tempo,
com mais sabor.»
esse senhor que não
detém grande predicado, deixou-te, na sua passagem, sem embrulho nem laço, que
tudo serve ao embaraço, a quezília com a gravidade que impera sobre teu corpo e
ordena que tudo desça um andar:
descem os sonhos em cheia
catadupa, a tropeçarem uns nos outros na ausência das concretizações, alheios às
querenças, soterrados pelo marasmo dos dias atolados de prioridades;
descem os ombros que outrora
ergueram o mundo, suportaram a faina e carregaram os filhos, agora caídos na leveza
do nada;
descem os seios que aconchegaram
o bater de corações e alimentaram gerações, agora tombados no desquerer;
desce o nariz que apontou
ao céu, que não lhe apagou as certezas, que não lhe retirou o garbo, agora derrubado
pela descrença;
descem os lábios que abriram
sorrisos, cantaram vitórias, encerraram segredos e agora descem em trilhos vincados
pelas respostas caladas, injúrias sofridas e cantigas esquecidas;
desce tua própria vida,
no tempo perdida… assim, meio que descaída…
A palavra falada que, às vezes, o
vento leva mas a memória traz de volta, se escrita, ultrapassa fronteiras e
viaja no tempo, para lá da eternidade.
A palavra, essa prodigiosa criação
sem dono, guarda todo poder do mundo e escreve o destino do homem.
Tolo
inocente o queignora a pujança da palavra,
ainda que sussurrada.
A palavra tem em si todos os
significados:
dá nome à
criatura,
dita a lei,
desbarata imbróglios
e revela intenções.
A palavra, quando quer, destrona a
sintaxe, troca-lhe as voltas e mantém-se firme no argumento.
Vezes há em que ganha vida própria: questiona, aceita
ou discorda, negando-se a conjugar verbo
alheio.
É obreira da magnanimidade e da
maledicência e, se a palavra bem medida não assina o erro, aquela proferida no
calor da forja corre o risco de incendiar o desatino.
E então:
grita;
esbofeteia;
semeia
discórdia, qual vento, por terra arada;
atiça ódios;
inflige dor;
comanda o
míssil e envia o silêncio sepulcral.
Mas é também a palavra, a doce
apaziguadora do desassossego.
Nasce, qual água cristalina, da boca
de poetas.
Se trôpega, mastiga emoções. Mas se
colhida do esplendor do sentimento, será flecha certeira em coração empedernido
e, venturosa, pedirá a Deus que dos céus desça à terra para espalhar a graça
entre seu povo.
Devolverá a fagulha de esperança ao suicida; confortará o
enfermo; edificará relações!
Será fermento a levedar generosidades e fecundará
desejos, pois que é a génese da vida que povoa desertos, o advérbio que
transforma a insensatez e a que adjectiva o futuro.
A palavra acertada desfralda a vela,
unifica vontades e, com a excelência de sua magia, arranca da inércia o fraco e
restitui o rubro sangue pulsante às guelras dos que temiam já não conseguir
empunhar o pendão da glória. Então, chamará mais palavras a se agruparem em
coro e a darem o mote para que se pronuncie a revolta dos corações.