Veio o tempo
e o tempo se foi.
E eis que chegou o tempo
em que já
não me resta muito tempo
de ter tempo
e dar tempo
ao tempo.
Se deixo passar
o tempo,
o tempo foge
e fico sem tempo
de ter tempo
de te amar
com tempo.
Este poema tão pequenino saiu-me
assim tipo: zás-tráz!
Chegou, de súbito, à ponta do
lápis, que quase não lhe conseguia acompanhar o nascer, que era assim como o brotar
da água na fonte.
Em menos de um instante já estava
cá fora. Meio sem querer, sem buscar palavras, que essas corriam à frente do
pensamento.
E de tão pequenino e singelo o
poema se fez grande em significado para mim.
Embora saibamos dizer que o tempo é fugaz não o vivemos com a
verdadeira consciência da fugacidade.
Porque, para nós, o tempo não passa.
Julgamo-nos eternos e, mais que
isso, eternamente jovens, eternamente sãos e eternamente eternos.
E, assim, andamos tão enganados a
acreditar ter tempo, tanto tempo…
Porque não vivemos o verdadeiro tempo, aquele tempo que corre
e não pára para descansar nem para nos dar tempo.
Vivemos o tempo irreal, o tempo que julgamos que espera por nós.
Prova disso é a construção de planos aos montes que
nunca se chega a colocar em prática, num adiar eterno, por uma ou outra razão.
Passamos uma vida inteira a
acreditar piamente que ainda vamos a tempo.
- se não for este mês, é no mês
que vem.
- se não for no mês que vem, será
no outro.
E nisso passa-se um ano.
E passa outro.
E mais outro.
Até que chegue o dia em que nos
apercebamos que passou tempo a mais e a gente:
- não fez.
- não foi.
- não visitou.
- não viajou.
- não comprou.
- não viveu.
- não amou.
- não nada do que planeou.
E o tempo acabou.
2010