16/07/11

Vivo do faz-de-conta

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Vivo
do faz-de-conta,
porque sim.

E quando me perguntam
“como estou”
falo
do que querem ouvir,
falo de outra,
não de mim.

Falo da que não é mulher,
é sereia,
de cabelos em onda,
longos e negros,
pernas que prolongam
o rabo dançante
e que pisam
nuns escarpins
de salto agulha.

Falo de uma dona
de olhos de lince
escondidos
num brilhar
que ofusca quem os vê.

É dessa dona
que falo.
Dessa dona,
senhora
cuja boca
não fala,
derruba.

Vivo
do faz-de-conta
E, quem sabe,
faz de conta
que não sou
a dona
que faço de conta
ser.

11/07/11

Bobeira boa...


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Hoje, depois de terminar meu dia de trabalho, fui caminhar com minha filha mais nova, companheira de caminhadas ...
Parei o carro e seguimos percurso a pé, pois que a pé é que se faz caminhada.
Caminhamos em direcção à praia que, àquela hora, já começava a ser abandonada pelos "praistas” afortunados que, durante a tarde, não tiveram a obrigação de prestar contas e resolver problemas, que não os seus, nos postos de trabalho e puderam, tão bem! aproveitar o sol morno que, embora acabrunhado, soube se fazer presente para aquecer a areia o suficiente de modo a ser bem bom pisá-la.
Pois bem, estava eu a dar palpites ao vento, acerca de um parque mal acabado, do outro lado da rua, quando, nem eu mesma sei como, já que eles eram verdadeiramente minúsculos, avistei:
primeiro um,
depois outro,
e, por fim, guiada pelo dedo da minha filha, ainda outro pequeníssimo!
Na realidade eram três não sei lá o que lhes chame – pois que não faço ideia que espécie de ave era aquela que se abrigava no que ainda resta das dunas. A mãe zelosa que bicava, bicava, piava, piava, e que os guiava pela mistura de areia e chorões da zona, era uma ave pequena, pouco maior que um pardal. Era da cor da areia e só o rabo escuro e uns raios nas penas das asitas lhe marcavam o corpo. Os filhos, como ainda nem tinham as penas do rabo, além de minúsculos, eram quase imperceptíveis, nas suas corridas sobre a areia.
Oh, coisas lindas!
E nós as duas ali, bobas, paradas no meio do passeio, indiferentes aos olhos e às cabeças viradas que não queriam seguir sem descobrir qual o mistério do nosso êxtase...



P.S. a imagem é meramente ilustrativa, pois que as duas bobas não tinham câmara à mão.

03/07/11

"José e Pilar": RI, CHOREI, AMEI!

Vim deslumbrada com o filme-documentário de Saramago e sua Pilar.
Um homem já nos últimos anos de sua vida, consciente do tal e, sedento de produzir porque o tempo é escasso.
A sua relação com a morte: "quando se estava e já não está".
A relação de amor entre um homem e uma mulher.
A sua maneira de a chamar.
A maneira de ela o amar.
E também as turras de um com o outro, ambos teimosos.
Bonito.
Ri, chorei...
Simplesmente amei.
Acreditem, vale demais a pena.