31/01/15

O meu amor é o teu


O meu amor é o teu.
Não é um amor qualquer,
é um amor sem hora,
é amor sempre
que a gente quiser.
É um amor sem medida,
é um amor sem juramento,
é um amor que sorri,
que não conhece lamento.
O meu amor é o teu,
o teu amor é o meu.




24/01/15

Gostava que estivesses aqui

Gostava
que estivesses aqui,
mas não estás.
Há muito
que não estás.
Ter-te a meu lado
é coisa de outra vida.
Uma vida
que ficou algures,
perdida
num tempo
que estes anos
afastaram de mim.
Ter-te a meu lado
já não é coisa
que guarde
nas prateleiras
da lembrança.
Ter-te a meu lado
parece que foi sonho
que tive um dia.
Desses sonhos,
de tantos,
que a gente
tem na vida,
de que ficam
apenas
fragmentos
esfumados
espalhados
nos cantos
do nosso ser.
Gostava
que estivesses aqui.
Gostava
de, enfim,
ter-te a meu lado.
Gostava
de poder
olhar
teus olhos,
uma vez que fosse.
Esses olhos
que me olhavam
como mais
nenhuns
olharam.
Gostava
de poder falar-te.
Gostava
de poder ouvir
o que tinhas
para me dizer,
que fiquei
sem saber.
Faz tanto tempo,
que não sei
se vivi-te
ou se sonhei-te.


21/01/15

Não sei

Se o que trago
No peito
É a melancolia,
Ou o rasgo
Duma ceifada.
Não sei
Se alguém partiu,
Ou se eu
É que me deixei
Ficar.
Não sei
Se vi
Ou se sonhei.
Não sei
Se vivo tormenta
Ou se...
Enlouqueci.



10/01/15

Um mar apaixonado




Não sei se já disse, mas se disse, torno a dizer: não sou portuguesa das cá nascidas, sou das que cá vieram parar.

Sou brasileira, não de estatura mediana; e tão pouco sou de gema, pois que essa era lusa, já que pai e mãe eram, por sua vez, de gema portuguesa. Porém, no meu Brasil fui feita e lá nasci. Depois, lá cresci e me fiz gente. Mas a vida, essa tonta que se julga dona de vontades e troca as voltas a toda a gente, como não poderia deixar de ser, trocou as minhas também.
E cá estou eu.
Cidadã portuguesa eu sou.

Confesso que não foi processo fácil. Não me refiro à burocracia da nacionalização que também foi dos processos mais complicados que se imagine! mas refiro-me sim, ao processo de adaptação de minha pessoa a este mar... que como amante apaixonado se queria estender a meus pés.
Eu, cega pelo amor ao outro que deixara algures a milhas de distância, nem me apercebia da grandeza que tinha tão próximo.
Eu se não podia ter o mar que queria, recusava-me a experimentar o que tinha perto.

E passaram anos.
Anos de estupidez alimentada pela saudade.

Não se poderá criticar. Os sentimentos de amor e desamor são daquelas coisas em que não adianta dar palpite: sente-se e pronto. Precisam ser mastigados, muito bem mastigados. E bem digeridos. Até que, com a ajuda do tempo, esse precioso aliado nosso, acabam então, por ser absorvidos e tal e qual como na digestão, os elementos bons são assimilados e os que não interessam são eliminados, excretados, postos fora.
E aí, ficamos mais leves e prontos para acolher novos sabores e novos amores.
Assim foi com este mar.

Não me recordo qual foi o momento, mas é facto que houve um primeiro momento.
Não se poderá afirmar que terá sido amor à primeira vista, embora fosse mais romântico se assim fosse, mas tornou-se, com certeza, num amor de maior importância, visto que foi um amor cultivado ao longo dos anos por este mar que nunca desistiu de mim. Nunca foi embora de vez. Sempre se deixou estar pelas proximidades, chegando mais próximo, de quando em vez. A mostrar-se, a dar-se a cheirar, para que não me esquecesse de sua presença.
E quando dei-me conta, estava eu perdida de amor.

Este mar é para mim, de suma importância. Poderei mesmo afirmar, sem medo de errar, de que é-me vital.

Adoro enfiar meus pés nas águas deste mar. Mesmo gelado que seja! Pois que é meu. E como o sinto meu: eu sou sua. Sou deste mar gelado, por vezes irado, mas é meu mar-amado.



Março/2012

02/01/15

A felicidade





Tenho lido menos do que minha sede pede. No entanto, um livro que me caiu em mãos,uma saborosa antologia da felicidade de Hermann Hesse, tem-me acompanhado há algumas semanas, pousado no estofo da cadeira que de assento, passou a apoio, substituindo a mesinha de cabeceira que não existe, por uma questão de praticidade. Lá se vinha deixando estar, até que hoje, duma assentada foi desbravado com a sofreguidão dum conquistador feroz, de tanta vontade que me deu de descobrir se Hermann Hesse teria, de facto, decifrado o segredo da dita felicidade. 
Sem surpresa, descubro que já em início do século passado, o grande escritor constatava que:
«Desde há uns bons tempos que andamos esquecidos em relação àquilo que os grandes mestres da humanidade descobriram e ensinaram. Desde há milénios todos ensinam o mesmo e qualquer teólogo, ou até mesmo qualquer indivíduo culto de formação humanista, no-lo poderia dizer com toda a clareza, independentemente de tender mais para Sócrates ou para Lao Tsé, ou de estar mais afeiçoado ao indiferente e sorridente Buda ou ao salvador da coroa de espinhos. Todos eles e, em geral, qualquer iniciado, qualquer indivíduo desperto e iluminado, qualquer verdadeiro conhecedor e mestre da humanidade sempre ensinaram o mesmo, nomeadamente que o ser humano não deve desejar para si nem grandezas nem venturas, nem heroísmo nem a doce paz, que não deve enfim desejar nada, a não ser um espírito puro e alerta, um coração valente e a lealdade e a esperteza da paciência, para assim poder suportar tanto a felicidade como o sofrimento, tanto o tumulto como a quietude». *
Por esta ordem de ideias, parte de mim deveria estar a seguir em bom caminho, não fosse uma outra pequena parte que insiste em contrariar.
Pois se não me perco em desejar grandezas e venturas, que as grandezas não se dão bem comigo e as venturas também não me mostram simpatia e, quanto ao heroísmo, já me deixei disso há algum tempo, no que toca à doce paz... ai! que eu sou mortal pecadora e desejo-a tanto, que até a boca se me enche d'água quando me sonho a saboreá-la...
Mas desejo sim, um espírito, apesar de já poluto, que se mantenha alerta! Que o ataque é fatal.
Desejo além da conta que neste meu apaixonado coração perdure a valentia, de que preciso demais.
E desejo também que a paciência não me vire costas, pois que será de mim?
Julgo também suportar bem a felicidade, assim venha ela.
Quanto ao sofrimento, não sendo eu formada de barro diferente dos demais, suporto-o também, pois que ninguém o suportará por mim.
O tumulto tolero, mas não suporto bem, confesso.
Mas a quietude não só suporto, como dela necessito, como do ar que respiro.
Assim, feitas as contas, talvez me permitam os mestres que me considere eu, na média do aceitável permitido, no rumo para a felicidade... quem sabe, um dia... Mas sem a desejar, claro está, que me parece ser esse o segredo.


* do livro Ainda da Felicidade - de Hermann Hesse - editora Difel