25/04/15

Democracia!



Portugal chama à lembrança, mais uma vez, a data em que seu povo conquistou a liberdade.
Liberdade essa que proporcionou a esse povo uma nova forma de estar na vida e na sociedade.

Passou a ter direitos, embora ainda hoje, volvidos 41 anos, muitos ainda não entendam o verdadeiro significado desse termo.
Passou a ter direito a defender os seus direitos, embora esse direito não lhe assegure o êxito de suas pretensões e, até possa ser passagem directa para o nada.
Passou a ter direito a escolher quem o represente e governe, apesar de essa escolha ser restringida por uma oferta, nem sempre da qualidade pretendida ou, por outro lado, vir a mostrar-se bem aquém do esperado.

Passou com isto, a ouvir e a aprender a proclamar que vive numa Democracia. Tem estado convencido de que vive, de facto, numa Democracia, porque pratica o direito ao voto.

E depois do voto?
É o adeus à definição original de Democracia, que deixa de ser um
“Governo do povo, para o povo e pelo povo”.

O voto, esse direito fundamental, tem dado direito ao povo a eleger uma “carga de trabalhos”.

Porque, ao longo deste período da proclamada Democracia, temos tido nos postos que deveriam servir para defender os interesses dum povo, uns quantos que entendem por “povo” como sendo a dúzia e meia de companheiros de interesses de meia-lua - que só reflectem luz para si próprios, deixando a restante parcela do povo na face do lado de lá, na escuridão.

Um povo que não tem direito ao trabalho não pode ser, jamais! livre.

Não queiramos passar mais quarenta anos apenas a gritar o slogan "Viva a Liberdade", a fazer de conta que somos livres. 


Factos:
Portugal é um dos quatro países
da zona euro com a maior taxa de desemprego, sendo que, em fevereiro,  o Instituto Nacional de Estatística (INE) registava um aumento, com uma estimativa de 14,1%, o que corresponde a mais de 700 mil pessoas sem emprego, sendo que, entre os jovens, estima-se uma taxa de 35% de desempregados.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) revelou que, em 2014, mais de 10% da população abdicou dos cuidados de saúde e cerca de 16% não comprou medicamentos prescritos, mesmo em situação de doença crónica, por falta de dinheiro!

Urgências de hospitais não têm médicos, não têm camas: só têm doentes desesperados.
 


O progresso, se, em algum momento, chegou ao interior, nestes mais de quarenta anos após o 25 de Abril, já o abandonou. O povo que vive longe dos grandes centros urbanos não parece ter direitos.
Os centros de saúde, as escolas, os serviços de correios, os postos da guarda republicana, os tribunais... todos abandonam esse povo!
A Democracia que não deve distinguir raça, sexo e credo religioso, faz a distinção geográfica!
 

CORRUPÇÃO - palavra do ano de 2014
 

Mas, afinal, nossa Democracia dá mostras de que todos são iguais perante a lei.
O inadmissível aconteceu!
Um ex-Primeiro-Ministro é preso preventivamente por suspeitas de corrupção.
Há quem defenda que as acusações de que é alvo se devem a um período anterior àquele em que exerceu funções no Executivo.
Antes, depois...
 




18 comentários:

Olinda Melo disse...


Excelente texto, Carmem, muito bem documentado. É tempo de reflectirmos sobre tudo o que se tem passado. Realmente, o regime democrático, para o povo, parece desaparecer no momento em que exercemos o nosso direito de voto. A partir daí já não temos qualquer "voto na matéria" e desinstalar quem lá colocámos é trabalho inglório.

Bom fim de semana.
Bj

Olinda

Andreia Morais disse...

A luta pela liberdade ainda não acabou!

r: Muito, muito obrigada *.*

Um grande beijinho*

Manuel disse...

Magnifico este texto. Magnifico e oportuno.
De facto temos democracia mas muito tutelada.
Os direitos estão lá, na constituição, mas não são respeitados.
Vivemos rodeados de corruptos, incompetentes e salazaristas.
Os meus parabéns por este grito!

Mar Arável disse...

No lado esquerdo da vida

Guaraciaba Perides disse...

a democracia é um processo em aperfeiçoamento e uma luta constante entre os interesses criados por séculos de história e o povo que sofridamente tem lutado por alcançar o bem estar social...em Portugal é difícil, imagine no Brasil.
um abraço

Elvira Carvalho disse...

Um texto muito bom. Como eu digo sempre.
Liberdade sem pão, sem educação, sem saúde, não é Liberdade. É um arremedo.
Um abraço

AdolfO ReltiH disse...

GRACIAS POR COMPARTIR ESTE POST TAN INTERESANTE.
ABRAZOS

Jossara Bes disse...

Querida Carmem!
Precioso texto! Por aqui também é exatamente assim!
As previsões são as piores possíveis e a roubalheira aumenta a cada dia mais.
Faz-se urgente respeito, seriedade e civilidade!
Tenha um feliz fim de semana!
Beijo carinhoso!

luisa disse...

A democracia pode ter defeitos mas parece-me que ainda não se inventou um sistema melhor.

Gracita disse...

A luta pela liberdade tem ser diária
É uma batalha árdua garantir os direitos que dão ao cidadão condições dignas de vida
E que todos se conscientizem de que infelizmente estão vivendo uma falsa liberdade
Beijos e um ótimo domingo

A Palavra Mágica disse...

Boa noite Carmem!

Hoje com um pouco mais de tempo vim conhecer seu blog. Gostei muito o que vi por aqui. Hoje é aniversário da revolução aí na "Terra da fraternidade". Por aqui também passamos tempos difíceis, sou professor e estou em greve há mais de 40 dias, mas tenho certeza que tanto por cá quanto por aí "O povo é quem mais ordena" e vamos virar essa página para uma melhor.

Beijo meu!
Alcides

lis disse...

Não invejo nenhuma das suas estatíticas porque certamente estamos piores, até pelo tamanho territorial ou mesmo pela corrupçaõ de levou preso não só um ministro,mais vários...
Será quando veremos a humanidade liberta do desgoverno?
um abraço e um domingo de paz.

Andrea Liette disse...

Genial, Carmem. Um choque da realidade nua e crua.
Um beijo.

Odete Ferreira disse...

Parabéns por este texto clarividente.
Acompanho a vida nacional e exaspero-me... Este ano, as comemorações entristeceram-me pela hipocrisia de atos de alguns senhores e porque está, cada vez mais em crise, o exercício maior de cidadania: o voto. Quem ganha, a passos largos, é a abstenção.
E por aqui me fico...
Bjo, Carmen

Antonio S. Leitão. disse...

E certo que com todos os seus defeitos a democracia é o que de melhor se inventou até hoje, mas indispensável que a mesma democracia continue para la das eleições, o que nao acontece agora; eles interpretam o voto como 1 cheque em branco que lhes da todos os direitos. segundo certas fontes, na sequência das ultimas eleições, os 2 partidos mais votados encaixaram respectivamente 30 e 20 milhões, dos nossos evidentemente. E muito lindo viver em democracia, mas estava previsto pagar para votar? Tenho cada vez mais a impressão que temos um misto de sociedade castas, e sociedade tribal. (A pior prisão, é aquela onde estamos fechados tendo a impressão de que somos livres.) PS. Consta que a troica propôs que reduzissem o numero de deputados. Quando a abstenção atingir os 50 por cento, talvez eles digam: mas que diabo é isto? Oxalá nao seja necessário. Um abraço.

Antonio S. Leitão. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Antonio S. Leitão. disse...

Tudo é desconcertante,/ E o aparente vazio /Embora seja Primavera/Os pobres têm mais frio. (in eles levam tudo.) Por Fernando S. Leitão

Ana Freire disse...

Como dizia Churchill, a democracia não é um sistema perfeito... mas ainda assim, é o melhor que se conhece...
E temos de facto, uma liberdade relativa... com todas as limitações ao nível da saúde, educação, da justiça, fiscais... que diariamente nos são infligidas...
Brilhante post, como sempre, Carmem!
Beijos. Bom fim de semana!
Ana