Quero subir
à mais alta montanha e,
lá do píncaro,
estender minha voz
até que se ouça
nos confins do mundo.
Quero gritar,
gritar o mais alto
que a força me permitir.
Soltar minha dor,
deixá-la ir dizer
ao céu
o quão grande ela é,
o quanto
que me deixou sofrer.
Tu, céu,
quando vires o sol
a deitar-se
sobre o horizonte,
essa linha de seda
que teceste
para mostrar
ao Homem
que não te haveria
de alcançar,
lembra-te que
também eu
deito-me todos os dias,
em desiludida agonia,
sobre as mágoas
que me deixaste.
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_%28pintura%29#/media/File:The_Scream.jpg
E então, em agonia, veio-me à memória a famosa pintura...
O Grito (Skrik) é uma série de quatro pinturas expressionistas, sendo o original de 1893, do pintor norueguês Edvard Munch.
A fonte de inspiração de Munch advém de sua própria experiência pessoal de vida e de seu estado de espírito, o que não há de surpreender a muitos, digo eu, pois considero que a obra de um artista está intrinsecamente ligada ao seu estado de espírito.
Segundo seus próprios registos, a obra terá nascido duma experiência quando passeava com dois amigos durante um pôr-do-sol e, ao observar o céu, viu "línguas de fogo e sangue sobre o fiorde azul escuro" - enquanto os amigos continuaram a caminhar, o artista permaneceu imóvel, a tremer de ansiedade, perante o que seus olhos conseguiam distinguir nas luzes de cor a envolver toda a natureza ao redor: "sentia o grito infinito da natureza".
Segundo seus próprios registos, a obra terá nascido duma experiência quando passeava com dois amigos durante um pôr-do-sol e, ao observar o céu, viu "línguas de fogo e sangue sobre o fiorde azul escuro" - enquanto os amigos continuaram a caminhar, o artista permaneceu imóvel, a tremer de ansiedade, perante o que seus olhos conseguiam distinguir nas luzes de cor a envolver toda a natureza ao redor: "sentia o grito infinito da natureza".
A grandeza desta pintura reside na busca do artista em apresentar a visão do mundo por parte de quem sofre, que vê toda a natureza distorcida/contorcida tal e qual a sua própria dor.
Foi exposto pela primeira vez em 1903 como parte duma série intitulada "O Amor" que reproduz as várias fases do amor, desde o encantamento à ruptura - "O Grito" pretende representar a angústia da última fase.
36 comentários:
Carmem, super interessante a história por trás da arte de Munch, eu não a conhecia. Sempre digo que a blogosfera é cultura. :)
Teu poema é doloroso, de alguém que precisa gritar desesperadamente aos céus que não parecem ouvi-lo. E quem algum dia não se sentiu assim, perdido no silêncio, não é mesmo?
Muito bom. Meus parabéns!
Rivotril com Coca-Cola
Todo o artista vê conforme sua atmosfera interior e nem sempre essa
atmosfera é linda a arte as vezes pode ser um grande tormento.
O grito seja ele de que maneira for dá um alivio; já gritei
muito por barrancos e penhascos adorava ver o eco que dava; depois
voltava para casa com a maior cara deslavada kkk.
Abraços
Janicce.
Querida Carmem
Um poema muito sentido.O seu grito tocou-me... Compreendo-a. A vida deu-me mágoas que me deixaram cicatrizes profundas. Não se deixe abater,tenha esperança e coragem,sim?
Um beijo com muito carinho.
UN GRITO QUE ENTRISTECE.
ABRAZOS
Também tenho a convicção que a obra de uma grande artista (pintor, músico, escritor...) se liga ao seu estado de alma.
Oiça-se Beethoven, admire-se Van Gogh, leia-se Baudelaire. Uma inifinidade de grandes vultos.
Mas, também nós, singelos 'passantes' nos cruzamos com a dor na nossas vidas. Tantas vezes :-(
Vimos então até aos nossos cantos/blogues exprimir o que nos comove, ou doi.
Através da nossa escrita choramos nossas mágoas. Por vezes nossa alegria.
Sentimos como escrevemos melhor quando o 'grito' interior se solta e se vai desvanecendo nas palavras que poisamos, deixando correr até que esse se torna mudo.
É um pouco como seu poema. A dor/ voz que necessita subir ao alto da montanha 'Até que se oiça/ Nos confins do mundo./ e vai decrescendo exausta, num queixume final 'Lembra-te que/ Também eu/ Deito-me...'. Lindo, doloroso, vivenciado.
Aprecio Munch, conhecia um pouco da sua história de vida que deixou passar para a sua obra.
Apreciei muito que tivesse passado por 'fragmentos'. Agradeço a amizade, e a partilha deste seu 'do lado sol'.
Embora tenha demorado algum tempo a a vir até aqui (escrevo pouco), voltarei certamente. Espero vê-la de novo por lá.
Um lindo domingo! Apaziguado... junto do mar.
beijos
É uma pintura muito interessante esta de Munch O Grito, desconhecia a sua história, que está muito bem descrita no texto.
Um abraço e bom Domingo.
Um trabalho artístico tão impactante que corre o mundo como um ícone da angústia profunda da existência humana...suas palavras expressam bem essa angústia.
Um abraço
gritar liberta a alma ...
por vezes esquecemos disso.
essa pintura é estranha
mas o pintor traduziu bem o que sentiu
:))
Gritar em plenos pulmões tudo o que nos incomoda o coração é muito bom. Gostei do poema e, claro, da pintura de Munch.
Um beijo
Oi Carmem,
O poema é lindo e triste...
Em alguns momentos,
e libertador exteriorizar
nossa dor.
Beijos!
Olá Carmem! Gritar quando necessário, faz bem à saúde e à alma. Eu, particularmente, já gritei em forma de versos, através das baboseiras que escrevo. Lindo poema bem ilustrado com o belo quadro do Edvard Munch.
Abraços,
Furtado.
E, no entanto, há silêncios que expressam mais angústia que alguns gritos...
Um bonito poema, muito sentido.
Olá Carmem,
Quanta intensidade neste poema!
Senti, daqui, este grito entalado na garganta.
Quantas vezes sentimos vontade de soltar um grito assim para aliviar a alma.
Grande poema!
A ilustração foi perfeita. Já li sobre esta obra e gostei de me inteirar um pouco mais sobre a motivação desta instigante criação artística.
Feliz semana.
Beijo.
Eis o ser iluminado a contorcer-se na gaiola de um corpo finito, chamado ao elo de eternidade, juntando-se em inconsciência com o todo silencioso que habita em todos nós..realidade dos nossos escaninhos menos densos, poesia, inspirando o desejo de voar ao infinito...libertar o grande amor contido na densidade duma matéria brutalizada e pesada aos sentimentos que contemos, como um pesar de saudade do lar!
Ghost e Bindi
Boa tarde, poema escrito com repleto sentimento, gritar no alto e bem alto a voz chega onde pretendemos para dissolver a dor.
A pintura é magica na beleza e no significado.
AG
Esse grito, que vem do fundo da alma, é capaz de explodir a dor. Quando é lançada, sentimo-nos esvaziados. Por vezes, desejamos que escape da garganta, no mais alto monte que se possa alcançar. Pintura e versos em perfeita sintonia. Bjs.
Gostei muito deste teu grito sentido mas também libertador.
Aprecio imenso este pintor; esta obra é muito conhecida mas desconhecia a sua origem.
Bjo, Carmen :)
Olá, Carmem
O seu poema vem ao encontro da angústia que nos assola perante tudo o que acontece de negativo pelo mundo e, em especial, nesta nossa querida terra, que tanto tem de desesperados e enganados.
Obrigada pela ilustração com "O Grito", essa pintura famosa,e pelas informações que aqui nos traz. Confesso que desconhecia a história existente por detrás dessa expressão artística.
Bom feriado.
Bj
Olinda
Bem-vinda ao mattiva!
Lindos versos1 interessante relato sobre a tela de Munch.
Grande abraço!
Sonia
Olá Carmem
O poema é triste mas muito bonito.
Quantas vezes gritamos em surdina, um grito que só nós ouvimos e sentimos...
Beijinho Grande
Teresa
Uma inspiração sem silêncios.
Beijinhos
um grito que abala os alicerces do Céu...
e se confunde com a humaníssima dor dos dias...
beijo
Belíssimo poema muito emotivo.
Aprecio a obra O Grito, mas desconhecia a história que a envolve.
Obrigada por dar a conhecê-la.
Um beijinho e uma boa noite.
Ailime
Oi, Carmem!
A dor do desespero pode levar à loucura. Talvez Edvard tenha tido surtos ao logo da vida e usava a arte para extravasar as suas emoções, assim como fazem todos os artistas. Acredito piamente no que você escreveu de que a obra do artista está ligada ao seu estado de espírito.
Munch não era "normal" e sua irmã também, desde que viram na infância, metade da família morrer de tuberculose. "Dança da Vida" é assustadora (rs*) e eu não colocaria na parede da minha casa! Deixaria em galeria como ela deve estar.
Adorei o poema da entrada do post!
Beijus,
Carmen, essa pintura, foi em tempos roubada do museu onde se encontrava. Desconheço se, entretanto, foi recuperada, mas sei que é valiosíssima no mercado da arte e paradigmática de uma escola.
Eu sei "que o poeta é um fingidor ..." e admiro a sua capacidade de ilustrar esta pintura com um texto profundo.
Bravo.
Beijo da Nina
Olá, Carmem, realmente os artistas expressam o que lhes vai na alma, dor, decepção, frustrações e muito sobre a vida e morte. Pintores e poetas estão muito próximos.
Sobre o poema, é um grito de dor, uma súplica, um desabafo e notei uma 'cobrança'. Emociona. Pode ser uma ficção ou não; quem vai saber?
Bela postagem em conjunto com Munch.
Beijos, amiga! Gostei muito!
Muito bem expresso em poesia o que senti
perante um determinado quadro.
Gostei muito.
Parabéns.
Bj.
Irene Alves
Belíssima esta postagem, não só pelo teu magnifico poema , como a explicação deste famoso quadro " o grito"
Gostei imenso. Muito bom ler-te
Bom domingo
Bjgrande do Lago
Querida amiga Carmem, arrepiei-me ao ler o seu intenso poema.
Quantas vezes sufocamos o grito e é nas palavras que o soltamos, no seu caso em forma de poesia.
A verdadeira arte transmite as nossas emoções, quer seja na escrita ou na pintura como foi o caso do famoso Grito.
Um beijinho e boa semana
Fê
Maravilhoso!!!!
Realmente encantada contigo,teu blog e tua postagem.
Beijão...
Desejo-lhe um boa semana.
AG
O poema combina perfeitamente com o quadro.
Gritar as nossas mágoas alivia.
Bjs
A alma sensível de um artista pode ser seu passaporte para a solidão. Enquanto muitos ao seu redor veem apenas a casca das coisas, ele as disseca com sua fina intuição, enxergando muitas vezes o lado sombrio que a ânsia pela felicidade esconde da maioria das pessoas.
Desejamos a você um belíssimo final de semana!
Bíndi e Ghost
É daquelas pinturas que dói só de olhar...
Cara Carmem,
Este seu poema foi lido no InVersos.
Pode encontrar o video aqui:
https://invers0s.wordpress.com/2016/06/25/inversos-carmem-grinheiro-meu-grito/
Com Consideração,
Rui Diniz
InVersos
Sabe que eu nunca parei prá pensar no significado desse quadro? Ele sempre mexeu comigo, sempre me pesou no coração, pela imagem tão dessolada da figura que pouco parece humana... Mas acho que algumas dores nos desumanizam às vezes, nos tornam tristeza pura... Que os teus gritos sejam de alegria no por do sol, minha querida - nunca de tristeza nem dor. Beijos.
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