24/05/10

Quando acontece...

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Faz de conta que vais ao médico e, depois de exames e mais exames, de um procura daqui e investiga dali, de dúvidas dacolá, de experiências com medicamentos de um lado e de outro e de um este não surtiu efeito, experimenta-se aquele… ainda é necessário repetir aquele exame médico que tu havias jurado nunca mais voltar a fazer!

Exactamente.




- Vai repetir sim. – garante o médico. Aliás, corrigindo: Senhor Doutor Fulano! Ah, pois é! O dito senhor doutor te manda fazer e refazer exames levados da breca, que nem ao diabo se deseja e tu ainda tens que entender que é para teu próprio benefício.
Ora bem, bem vistas as coisas, o médico não tem culpa de lhe apareceres à frente a te queixares de umas esquisitices mal explicadas que geram resultados duvidosos nos relatórios dos exames de diagnóstico.
Valha-te Deus! Não podias ter ficado por umas básicas dorzitas na barriga, bem demarcadas à esquerda ou à direita, para simplificar o diagnóstico? Não.


E nisto
passam-se uns largos meses…


E, não sendo tu filho da sorte, prolongam-se no tempo os exames e experimentações.
Passam-se, enfim, uns anitos.
Enquanto o tempo corre, o teu corpo segue a desgovernar-se, como um automóvel sem travão e tu já não tens mão nele.
Aí, finalmente, vem o Senhor Doutor Fulano dizer-te que afinal, já não restam dúvidas.

E dá o veredicto:
- tens que admitir que tens uma doença com a qual tens que aprender a lidar;
- talvez aproxime-se a hora de reorganizares a vida.
E então, tu tomas consciência: chegou-te o cataclismo todinho, inteirinho, pela porta adentro! E agora tem nome e atestado reconhecido.
Ainda pensas numa estratégia para ludibriar o dito cujo, para fugir… mas entretanto ocorre-te se não estarás também a perder o juízo…
Pois… fugir para onde, ó, alma de Deus?
Como fugir de uma coisa que carregas dentro de ti? Entranhada, no mais recôndito do teu ser, onde nem mesmo tu jamais chegaste?

Pedem que reorganizes a vida.
Reorganizar o que ainda agora estás a conseguir organizar?????
O mundo enlouqueceu!!!!!!!!!
Ou serás tu?
Não.
Na realidade, quem enlouqueceu foi uma parte do teu corpo que perdeu o juízo e começou a descarrilhar e a atacar-se a si próprio. E o resultado foi este pandemónio generalizado.

Tu já não és tu.
O teu corpo já não é o teu corpo. Esqueceu-se de como se comportar. Endoideceu.
Endoideceu ao ponto de te fazer  experimentar  sensações  que não são, mas que te parecem tão reais.
Que raio de loucura tomou conta do teu corpo?
E vêm dizer-te que tu tens que aceitar e aprender a viver com isto? Viver com essa loucura toda?
Como se aceita o que não dá para aceitar?
Como se aprende a viver com algo que não se tolera?
E como se consegue reorganizar uma vida no meio de uma tal confusão?
E ainda tens que conseguir reaprender a dar um passo certo, bem dado, sem hesitação…



11 comentários:

...EU VOU GRITAR PRA TODO MUNDO OUVIR... disse...

Olá!Vim tomar meu cafezinho!

Quando nosso corpo enlouquece o melhor é obedecer aos senhores doutores e tentar saber porque foi que ele,o corpo,enlouqueceu e levar tudo -muito difícil-com bom humor e tendo a certeza de que ninguém se vai na véspera e que nada é por acaso!

Fique bem!

Adoro este azul de seu blog e o seu estilo de escrita!

Beijos!

Sonia Regina.

Machado de Carlos disse...

Nem me fales em bicicletas, dão-me arrepios. Sofri acidentes com bicicletas. Por muitos anos só usava bicicleta. Um dia bati o rosto contra o muro, conclusão: dois pinos entre os olhos e uma clavícula quebrada.
Depois, após três meses; eis que me atropelam. Acordo em um hospital, sem saber o que estava fazendo por lá. Uma cirurgia tirou-me um coágulo encefálico. Daí pra cá, passo longe de bicicleta. Que pena! Gostava tanto delas!
Por acaso tu moras perto de Leiría, pois minha avó nasceu por lá!
— Ah!... Que bom que você veio! Estou feliz por teres conhecido o meu “blog”. — Obrigado pelos comentários!
Beijos!...

ANA PAULA disse...

Olá Carmem, vim te conhecer e vou daqui encantada e um pouco envergonhada, porque me sinto tão pequenina.
O teu blog está lindo e tens uma forma de comunicar muito genuína.
Obrigada pela visita...volta sempre que quiseres para dar o teu contributo e ma ajudares a crescer neste jogo de letras
Beijinho...:-))

♪ Sil disse...

Carmem, voce é uma queridaaaaaa!!
E adorei o texto, mas te confesso:
Eu corroooo de médico rs.

Um abraço grande minha querida!

Machado de Carlos disse...

Sim aquela bicicleta que você anda, viaja muito, mas fica no lugar. (Ergométrica).

- Rindo!...

wcastanheira disse...

Adorei seu espaço, textos longos é pciso ter capricho, mas ao final deparo-me com uma bela leitura, vc está iluminada pra vc minha linda bjos, bjos e bjossssssss

IVANCEZAR disse...

Oi Carmem, tudo bem ?
Ando super carregado no trabalho e com pouquissimo tempo sobrando para as letras ... enfim...
Mas acerca desse teu POST, sabes que minha filha caçula passou anos com uma doença que fazia cair sua pressão. Já estava prejudicando até na escola. Andamos por muitos médicos - anos e anos - e nada de descobrir .... Pois este mês, depois de alguma$$ despe$a$ e muitos exames, enfim descobrimos ... Teu post veio a calhar p/ mim. Beijos do sul do Brasil !

Vilma disse...

Usei uns versinhos do Camões que voce me deixou no ultimo post rsrs]

bjxxx

Machado de Carlos disse...

Adoro bicicleta. Tenho Paixão. Vou adquirir uma ergométrica, assim poderei filosofar aqui e simultaneamente embalar com a bicicleta. Um conselho aprovado!
Obrigado!

Citadino Kane disse...

Carmem,
Tenho uma bicicleta que pedalo pela blogosfera, e como pedalo... Ahahaha...
Vejo flores, montanhas, campos e me alegro por tudo que vejo.
Não poderia deixar de comentar que pedalando, ouvi um sussurro quase inaudível que dizia:

"Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração."(Drummond)

Pedalo concordando com o poeta de Itabira: - É isso aí bom Drummond! mais vasto é meu coração.

Beijos,
Pedro

Anónimo disse...

Oi Carmem, estou duma banda com este teu post. My God!
Realmente como se aceita o que não dá para aceitar?
Tens toda a razão!
É impossível.
E como conseguiste passar para a escrita, duma forma tão forte e real aquilo que se sente numa situação de encurralamento como é a da doença.
Adoro-te sempre!

beijos
Lúcia