13/11/14

Demónios disfarçados de anjos




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O que eu não tolero mesmo e que me leva aos beirais da loucura, são os falsos anjos. Homens e mulheres direitos(as) que batem no peito, que falam de honradez como quem fala de futebol na tasca da esquina, ou da moda para a próxima estação, no chá com as amigas.
Esses(as) que se dizem de boa cepa e em seu desvario até se crêem duma cepa da qualidade dum Chardonnay, embora não passem daquilo que são… bebida barata em embalagem duvidosa.

Os mais bem talhados fatos de vicunha, as superiores marcas disto e daquilo sobre o corpo e o mais bem sonante patoá têm por serventia encobrir-lhes a negrura d’alma.
E mesmo que lhes escancarem nas fuças que é indisfarçável o odor nauseabundo que denuncia a podridão dos becos percorridos no ínterim das reuniões de negócios e almoços de família, seguem na vida sem perder a pose de senhores(as) e, sem se coibirem de apontar, sem parcimónia, o dedo a quem nunca, sequer, cruzou com eles(as) nesses caminhos obscuros.
E esta agora?
E agora que o tempo passou…
Agora que a maledicência teimou;
Agora que as cicatrizes ficaram;
Agora que todo o tempo do mundo,
Por fim, se escoou;
E agora, quando afinal constata-se
Que o bem não vence o ultraje?

Eis que o demónio tombou,
E todos buscam a honra
De o acompanhar no cortejo.
E segue no cortejo a podridão
Em urna da melhor cepa adornada a ouro;
Acompanhada das mais caras e raras flores;
Ladeada de fatos de lapela e mãos ao peito,
Em ostensiva,
Tão espampanante dor…
Oh! que só os bons se vão…
Segue o cortejo a honrar a podridão.
A honra tilinta nos bolsos
E carteiras que seguem no cortejo.
E o cortejo segue.
Honra à podridão!
Tanta é a comoção.
A terra mais fina
Cobrirá a urna da melhor cepa,
Que reluz mais
Do que brilha a alma
Que anda ali,
Ainda sem saber direito
Em que beco deixou a honra…
Demónios disfarçados de anjos…
Perdurará o engodo?
Não se rompem bolsos e carteiras a espalhar a honra pelo chão?

E não há quem ponha um níquel na mão da alma desvairada, a quem o cortejo confunde os passos que se assemelham aos de um ébrio, à procura em meio às flores e rostos, que nem reconhece, a honra que deixou algures…





2 comentários:

Arco-Íris de Frida disse...

Lobos em pele de cordeiro... é o que mais tem... é preciso ter cuidado com essa gente...

Beijos...

Odete Ferreira disse...

Gostei imenso da postagem, amiga.
É o que há mais e, infelizmente, disfarçam-se tão bem que não é fácil identificá-los. Querem estar de bem com Deus e com o Diabo. Cada vez mais, sinal dos tempos...
Meu beijo, Carmen :)